Ao Livro Vitorino Das Caieiras De Misherlany Gouthier

PREFÁCIO

Enfeitiçado pelo pesquisador Raimundo Soares de Brito, Misherlany Gouthier adentrou, com a espontaneidade de quem ama a pesquisa, no caminho da história e da genealogia, para gáudio daqueles que como eu se interessam por esses assuntos.

Curioso a respeito das origens genealógicas das famílias da chamada Zona Oeste do Estado, estou sempre com esperança de que alguém decifre os enigmas genealógicos que não consegui desvendar até agora. Sei do esforço hercúleo necessário para tirar do esquecimento aqueles patriarcas sertanejos. Já segui este caminho conhecido por todos os amante da genealogia: inventários, entrevistas, livros de história e genealogia, inscrições tumulares, etc. Por aí caminhou também o autor, legitimando o seu trabalho.

Tomando como fio condutor a gens dos Vitorinos da Caieira, arrimado em boa bibliografia e talvez inspirado na obra de Raibrito sobre os Góis Nogueira, o autor leva-nos a uma deliciosa viagem pela historia da região, onde não nos faltam as paisagens antropológicas dos antigos costumes sertanejos, do clima, das vicissitudes econômicas enfrentadas pelos nossos antepassados, que por sinal não foram nunca suficientes para obnubilar a verve do patriarca dos Vitorinos.

É possível que acerte quanto à origem dessa gens nordestina, quando aponta sua possível derivação cristã-nova. São muitas as evidências de que, naquela região, outras famílias o sejam, quanto mais aquelas ostentando sobrenomes patronímicos, tão encontradiços entre os conversos, como Lopes, Rodrigues, Nunes. Quando não o fossem inicialmente, o fato de se aliarem aos Bandeiras de Moura, ligam-nos aos Lucenas como se pode ver na Nobiliarquia Pernambucana do notável Borges da Fonseca, e estes são seguramente descendentes do judeu Martim de Lucena, natural da Andaluzia. Martim, embora tenha se convertido ao cristianismo, não impediu que seus filhos sofressem nas garras da inquisição espanhola, forçando alguns deles a se refugiarem em Portugal.

Originariamente, porem, a hipótese mais aproximada será, de fato, a ligação com os Nunes da Fonseca, daqueles infelizes marranos paraibanos tão perseguidos pelo santo ofício, estudados pelo insigne Olavo de Medeiros Filho, donde vem também os Rosado Maia, alguns Filgueiras e naturalmente os Nunes daquelas paragens.

O rico esboço genealógico no final do trabalho é testemunho da miscigenação que sempre ocorreu no Brasil, desde o inicio da colonização. Casa Grande e Senzala já o demonstra. São Almeidas, Nogueiras, Soares, dentre várias famílias sertanejas, alem do sangue judeu e africano, que passam a compor a gens da Caieira.

O trabalho, sem dúvida, insere-se dentre os ainda poucos que trazem importante contribuição para a paisagem humana da Zona Oeste do nosso estado merecendo, portanto, parabéns pela sua feitura. E como todo trabalho dessa natureza é incompleto, fica-nos a esperança de que o autor faça novas incursões genealógicas e históricas, enriquecendo ainda mais a nossa bibliografia.

Prof. Marcos Filgueira

Mossoró, 24 de novembro de 2008

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